segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

FAFALI KOUDAWO - IN MEMORIAM

A Casa dos Direitos recebeu com pesar a notícia do falecimento do Prof. Fafali Koudawo, figura incontornável na história da Guiné-Bissau.

Director da ONG Voz di Paz e Reitor da Universidade Colinas de Boé, o Prof. Fafali Koudawo contribui ao longo das últimas décadas para o desenvolvimento da Guiné-Bissau, na educação, na investigação e na promoção da paz e do processo de reconciliação nacional.


Recuperamos aqui o texto que Waldir Araújo escreveu sobre o Professor para a letra D [Desenvolvimento] do Alfabeto do Desenvolvimento (2012):


Fafali, togolês, formado em História na Universidade de Lomé e doutorado em Ciências Políticas na Suíça, chegou à Guiné-Bissau em 1990, “por uma afectação para o PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] como Encarregado do Programa dos Voluntários das Nações Unidas. Tinha uma missão inicial de dois anos”. Durante este tempo conheceu dois outros investigadores, a Teresa e o Raul, duas pessoas que acabariam por ser determinantes na sua permanência em Bissau. Da relação com os dois investigadores “nasceu a ideia de que eu poderia ir reforçar a equipa do Centro de História e Antropologia no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa [INEP]”. Em 1992 o togolês abandona o PNUD para ir trabalhar no INEP como investigador.

Koudawo confessa que o primeiro contacto com a Guiné-Bissau foi um choque. “A pobreza da Guiné contrastava imenso com a opulência material da Suíça, país onde acabava de passar dez anos. Tive algumas dificuldades a superar a falta permanente de luz e água. “Luz bai, luz bin, iagu ka ten” foram as primeiras palavras crioulas que aprendi”, confessa.
Mas rapidamente a ligação ao país de Amílcar Cabral intensifica-se, “amei logo a calma do país naquela altura, “a simplicidade da gente, amei o verde da paisagem e a riqueza cultural. Depois de dez anos passados na Suíça, a Guiné-Bissau foi para mim um agradável mergulho no banho da África.” O contacto com a realidade guineense remeteu Fafali à sua infância vivida no Togo, “ senti na Guiné a trama da unidade cultural das civilizações da África ocidental”.

Decide ficar no país que o acolhera. Hoje exerce o cargo de Reitor da Universidade Colinas de Boé, fundou e dirige um jornal, o Kansaré. Colaborou na criação da editora guineense Kusimon, e dirige uma ONG, “Voz di Paz”. Tem tempo ainda para colaborações com rádios e jornais locais: “faço a vulgarização científica em história africana em várias rádios. Comunico pela rádio em crioulo, uma língua riquíssima que adoro e ensino na Universidade, em português. Trabalho diariamente mais em português que em qualquer outra das línguas que domino.

E exalta a diversidade como o grande trunfo do povo guineense, “rico na sua diversidade cultural, complexo na sua organização social. Neste sentido, penso que há vários povos guineenses, e isto é que faz a riqueza do país”.

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