No último debate debruçamo-nos sobre a pandemia e as perspectivas de género no contexto guineense . Falamos com Aissatu Camara Injai (RENLUV) e Ussumane Embalo (Instituto da Mulher e Criança), para analisar até que ponto as medidas de emergência agudizam a desigualdade de género e incidem sobre a condição de pobreza e formas de proteção das mulheres.
Para muitos o confinamento é um abrigo contra o contágio do coronavírus (Covid-19), mas para a maioria das mulheres as medidas de prevenção trazem consigo perigos tão preocupantes quanto o vírus. Se mesmo antes da pandemia a maioria das mulheres guineenses já estavam imersas num conjunto de desigualdades sociais estruturais: a maioria no desemprego ou inserções precárias cujas consequências são os baixos rendimentos, a falta de oportunidades educacionais, acesso limitado e baixa qualidade dos serviços de saúde e infraestrutura habitacional; como estão a a fazer face com essas condições exacerbadas pela pandemia?
Os nossos convidados manifestaram as suas preocupações com as consequências causadas pela pandemia Covid 19 em especial na desigualdade de género. A situação de emergência de saúde, com impactos na economia, na política, na sociedade e no direito tende a tornar essa desigualdade mais latente, impondo às mulheres a situação de vulnerabilidade acentuada. Qual é a possibilidade de se manterem em distanciamento social e de se poderem proteger de facto? Quais são as repercussões do distanciamento social no relacionamento interpessoal e até que ponto deixa as mulheres ainda mais vulneráveis à violência doméstica? Que fragilidades existem nos sistemas de proteção?
O agravamento da situação de desigualdade de gênero é uma realidade que se projetará no futuro. Há indicativos de que a perda de empregos decorrente da crise afetará especialmente as mulheres, que se concentram no setor de serviços, um dos mais impactados pela crise. Deve-se considerar, ainda, que muitas mulheres atuam na informalidade e que várias delas nem sequer terão acesso às atividades que eram até então desenvolvidas, ainda que precariamente, como fonte de sustento.
O fecho de escolas e de creches também impôs encargos adicionais significativos para as mulheres em casa. Essa circunstância atrai reflexões sobre a cidadania feminina, no que diz respeito à divisão sexual de tarefas domésticas, sendo essas últimas socialmente atribuíveis às mulheres, e que, na prática, representam dificuldades, quando não obstáculos, para a inserção e a presença delas no mercado de trabalho.
Em suma, as mulheres têm sido sobremaneira afetadas pela crise pandêmica, sem que as medidas, executivas, legislativas ou judiciárias, sejam, até aqui, suficientes para concretizar o princípio da igualdade. Acrescenta-se também a questão da sub-representação feminina nos espaços políticos de tomadas de decisão (no Parlamento; no Poder Executivo; no Poder Judiciário; e até nos sindicatos).
Mesmo habitando espaços desiguais, como criar alternativas constituindo redes de apoio e proteção para driblar as inseguranças sociais? Para os nossos convidados, é urgente olhar o cenário da pandemia sob a ótica da desigualdade do gênero de forma a garantir que tanto as ações de combate ao COVID-19, como as bases da retoma pós-crise garantam a equidade de gênero e ofereçam proteção dos direitos adquiridos. Apelam, por isso, que neste momento de pandemia para haja um maior compromisso em apoiar as mulheres e as organizações que desenvolvem trabalhos nesta área e que a liderança e a contribuição feminina sejam façam parte dos esforços de recuperação contra o novo coronavírus.
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