No dia 01 de Junho, o dia internacional das crianças, a AMIC assinalou o dia com uma sessão na sua sede no bairro de enterramento. O trabalho desta ONG concentra-se em dois eixos: identificar crianças em situações de vulnerabilidade no contexto de mobilidade nacional e transnacional, maioritariamente crianças talibés; desencadear as pesquisas necessárias para localizar as suas famílias e a partir dos centros de acolhimentos (Bissau e Gabú) proceder à reintegração destas crianças às suas famílias de origem e quando tal não é possível, à família alargada. Laudolino Medina, Secretário Executivo da AMIC, explica que a justiça penal da Guiné-Bissau tem dificultado a proteção dos direitos das crianças. O fenómeno das crianças talibés continua a ser uma das maiores preocupações da AMIC.
As medidas anunciadas pelas autoridades nacionais para evitar a contaminação e a propagação do Coronavirus exacerbaram a vulnerabilidade das crianças talibés que continuam nas ruas de todo o país, esquecidas e abandonadas. Vivem ao céu aberto, andam descalços, sem máscara, nem qualquer tipo de proteção. Várias crianças guineenses foram resgatadas recentemente no Senegal e a AMIC está a ajudar no processo de retorno e reintegração destas crianças.
Com o surto do Coronavírus agravada pela instabilidade política, vários projetos da AMIC que poderiam beneficiar crianças guineenses foram cancelados. “Fomos surpreendidos pela pandemia da Covid-19 que teve consequências ao nível do nosso projeto e limitou a nossa capacidade de resposta. Neste período o sistema identificou 65 crianças, quando se esperava aproximadamente 20 crianças, sobretudo no contexto transnacional”, explica Laudolino Medina.
Segundo ele, foi feito um levantamento e foram detetadas mais de uma dúzia de escolas corânicas, em Bissau, em lugares superlotados e em situações precárias. A preocupação da AMIC é a evacuação dessas escolas de uma forma metódica permitindo que as crianças sejam entregues às suas respetivas famílias. A proposta foi entregue aos parceiros e ainda nada foi feito. Para fazer face a este cenário a AMIC criou um plano de urgência em conjunto com o Instituto da Mulher e Criança, que contempla entre outras, a retirada das crianças talibés nas ruas de todo o país.
A AMIC tem sido um porto seguro para as crianças que sofrem vários tipos de violações. Além das crianças Talibés, acolhe meninas em situação de vulnerabilidade, algumas vítimas de Mutilação Genital Feminina, de casamento precoce e forçado, de violação sexual e até de prostituição. O secretário-executivo da AMIC confirma que o recrutamento das crianças para o efeito de futebol e da moda são outras formas de exploração infantil que inclui a escravidão e a prostituição. O centro de acolhimento em Bissau, recebeu recentemente duas meninas guineenses interceptadas no aeroporto de Marrocos cujo destino era um país asiático. Foram reconduzidas à AMIC que por sua vez as reintegrou. As crianças são reintegradas nas suas famílias de origem ou entregues a famílias de acolhimento.
É o caso da A., uma menina de 16 anos. Ela nasceu em Bissau, a mãe foi raptada pelo pai que abusou dela durante mais de 1 ano e seis meses; ela é fruto desta violência sexual. Separada da mãe desde criança, A. agora vive com a avó. Ainda criança foi abusada sexualmente por um vizinho e a justiça nunca foi feita. Passados anos foi novamente violada pelo próprio pai. Ela conta que, numa mata na Granja, em Bissau, foi agredida, amarrada e esfaqueada pelo próprio pai. Ela disse guardar dor e mágoa, mas sente-se mais segura depois que o pai foi preso. O sonho da A. é ser Médica para ter a sua autonomia e ajudar outras meninas que sofrem de abusos e a mãe que passa por dificuldades em Conacri.
Uma outra menina acolhida pela AMIC é a A.C. A mãe morreu quando era criança e foi educada pela tia. Ao atingir os 16 anos a tia queria entregá-la à força ao marido dela de 75 anos de idade. A.C. foi obrigada a fugir de casa com a ajuda de um adulto. Passados alguns meses foi confiada a uma outra mulher que depois decidiu pedir o apoio do Instituto da Mulher e Criança. Agora o seu maior sonho é se formar e não abre mão deste sonho.
É o caso da A., uma menina de 16 anos. Ela nasceu em Bissau, a mãe foi raptada pelo pai que abusou dela durante mais de 1 ano e seis meses; ela é fruto desta violência sexual. Separada da mãe desde criança, A. agora vive com a avó. Ainda criança foi abusada sexualmente por um vizinho e a justiça nunca foi feita. Passados anos foi novamente violada pelo próprio pai. Ela conta que, numa mata na Granja, em Bissau, foi agredida, amarrada e esfaqueada pelo próprio pai. Ela disse guardar dor e mágoa, mas sente-se mais segura depois que o pai foi preso. O sonho da A. é ser Médica para ter a sua autonomia e ajudar outras meninas que sofrem de abusos e a mãe que passa por dificuldades em Conacri.
Uma outra menina acolhida pela AMIC é a A.C. A mãe morreu quando era criança e foi educada pela tia. Ao atingir os 16 anos a tia queria entregá-la à força ao marido dela de 75 anos de idade. A.C. foi obrigada a fugir de casa com a ajuda de um adulto. Passados alguns meses foi confiada a uma outra mulher que depois decidiu pedir o apoio do Instituto da Mulher e Criança. Agora o seu maior sonho é se formar e não abre mão deste sonho.
M. de 19 anos é outra vítima de casamento forçado e precoce, nasceu em Nhacra e está na sexta classe. Ela foi vítima de casamento forçado em Bissau por uma tia que a educou desde os 4 anos de idade. Foi-lhe negado o direito à escola e de escolher o seu próprio marido. Fugiu de casa porque a tia queria que casasse com o seu marido e ficou na rua onde foi acolhida por uma pessoa que cuidou dela mais de 4 meses e por fim foi entregue às autoridades.
Há 5 anos, a Casa dos Direitos realizou um estudo, coordenado pela AMIC, sobre casamento precoce e forçado e diferentes formas de tráficos de crianças na Guiné-Bissau, nomeadamente das crianças talibé. Laudolino explica que no estudo foi constatado que o tráfico no país não é só por mendicidade, mas também pela prostituição e existem casos de mobilidade das crianças supostamente recrutados para jogar futebol, mas que acabam noutras formas de exploração como o turismo sexual. Do estudo resultou uma proposta de lei de proteção de crianças sujeitas à mendicidade e casamento precoce e forçado, apresentada pelas organizações membro (ACEP, AMIC, LGDH, RENAJ, RENLUV e TINIGUENA) ao parlamento da Guiné-Bissau e à comissão permanente para os direitos das crianças, mas não chegou a ser discutido pelos deputados devido à instabilidade política.
A AMIC exorta que se dê uma atenção especial às crianças talibé e às crianças deficientes sobretudo durante a pandemia. Enquanto isso, as organizações membro da Casa dos Direitos aguardam que o projeto de lei seja realidade no país em benefício das crianças guineenses que ainda continuam a ver os seus direitos fundamentais ignorados e violados.
por Elisangela Raisa Silva dos Santos (texto) e Arlindo Sanha (foto)
Há 5 anos, a Casa dos Direitos realizou um estudo, coordenado pela AMIC, sobre casamento precoce e forçado e diferentes formas de tráficos de crianças na Guiné-Bissau, nomeadamente das crianças talibé. Laudolino explica que no estudo foi constatado que o tráfico no país não é só por mendicidade, mas também pela prostituição e existem casos de mobilidade das crianças supostamente recrutados para jogar futebol, mas que acabam noutras formas de exploração como o turismo sexual. Do estudo resultou uma proposta de lei de proteção de crianças sujeitas à mendicidade e casamento precoce e forçado, apresentada pelas organizações membro (ACEP, AMIC, LGDH, RENAJ, RENLUV e TINIGUENA) ao parlamento da Guiné-Bissau e à comissão permanente para os direitos das crianças, mas não chegou a ser discutido pelos deputados devido à instabilidade política.
A AMIC exorta que se dê uma atenção especial às crianças talibé e às crianças deficientes sobretudo durante a pandemia. Enquanto isso, as organizações membro da Casa dos Direitos aguardam que o projeto de lei seja realidade no país em benefício das crianças guineenses que ainda continuam a ver os seus direitos fundamentais ignorados e violados.
por Elisangela Raisa Silva dos Santos (texto) e Arlindo Sanha (foto)
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