Estávamos a preparar-nos para legalizar a nossa rede, que vai se chamar Rede Nacional Mulheres em Ação, quando vimos a urgência em dar prioridade a ações que pudessem ajudar no combate ao novo coronavírus. Sou enfermeira e também estou a estudar na Faculdade de Medicina de Bissau, por isso, coube a mim orientar as minhas colegas sobre o que é a Covid-19 e como prevenir a doença para que em seguida pudéssemos realizar as campanhas de sensibilização.
Começámos por Mindará. Por ter nascido lá, conheço bem a realidade do bairro, uma localidade muito propícia à propagação de doenças, principalmente infectocontagiosas como é o caso da Covid-19. A população merecia um alerta, uma educação para a saúde, para que tivessem a noção do que estava por vir, caso o nosso país tivesse algum caso.
Neste momento estamos com mais de mil casos identificados. Se calhar, se as pessoas tivessem adotado medidas preventivas e desde o início tivessem tomado em consideração a gravidade desta doença, penso que nós não chegaríamos ao ponto que chegamos. Foi por isso que mesmo sem nenhum meio financeiro nós começámos logo com o trabalho de sensibilização.
Sempre disse às minhas companheiras do ‘Mulheres em Ação’ que não precisávamos de dinheiro algum para fazer este trabalho, pois o que a população para se prevenirem.
Porta a porta, até que surgiu o apoio de um senhor para que pudéssemos obter alguns produtos de desinfeção das mãos. Distribuímos este material para os citadinos com os quais já havíamos falado, uma vez que já tinham sido sensibilizados sobre o uso adequado do material e como dar valor ao mesmo.
Mas não podíamos parar por aí! Surgiu a ideia de falar com uma prima minha que vive na Inglaterra (e que conhece muita gente) para nos ajudar a angariar fundos. Prevíamos que mais cedo ou mais tarde a doença chegaria nesta fase e a população iria sofrer muito com a falta de provisão alimentar.
Na semana passada ela conseguiu enviar o dinheiro e nós adquirimos alguns bens essenciais. Um deputado da nação também nos apoiou e doou frangos. Conseguimos distribuir estes géneros para a população do Ilhéu do Rei. É assim que deve ser! Se cada um fizer um bocadinho e se todos nós nos unirmos em prol de uma causa a Guiné-Bissau será uma terra melhor para todos.
Escolhemos esta localidade porque vimos que apesar de muito próxima de Bissau, é bastante sofrida, carenciada e praticamente esquecida. Como de costume, começamos por uma sensibilização e aproveitamos o ato para realizar um recenseamento e assim conhecer o número de agregado familiar no local. Depois compramos o alimento, produto de higiene e distribuímos.
Neste momento estamos a ajudar as pessoas que foram diagnosticadas com o novo coronavírus e que estão isoladas em diferentes hotéis da cidade de Bissau, pois elas estão a passar por dificuldades. Compramos alguns alimentos para que possam aguentar enquanto esperam as refeições principais. Compramos também muita água e chá, pois sabemos que esta doença exige que o utente ingira muitos líquidos.
Por outro lado, também demos início à produção de viseiras. Elas hão de ser distribuídas nos hospitais, principais mercados de Bissau e, se viermos a conseguir mais apoios, aos corpos de segurança, de modo a que os profissionais tenham mais proteção.
Atualmente somos dez (com uma a residir fora) no Movimento Mulheres em Ação: Adama Baldé, Aurora Almeida, Claúdia Cá, Dalila Djaura, Eliana Gomes, Finaika Silva, Noémia Issimo, Udenaika Silva e Waltemira Monteiro Ekerte. Todas temos como principal motivação ajudar ao próximo, sobretudo a camada feminina. A nossa vontade é fazer com que mulheres que não tiveram as mesmas oportunidades que nós tivemos, nomeadamente no que tange ao acesso à educação, possam alcançar a sua autonomia e decidir a sua própria vida.
Esta é a base: o empoderamento da camada feminina na sociedade, incentivar e promover a alfabetização e a formação técnico-profissional, bem como apoiar as mulheres mediante as suas necessidades pontuais. Queremos ajudar outras a irem mais longe nas respetivas caminhadas, reconhecendo e valorizando as suas capacidades de forma a que consigam mudar alguma coisa nas suas vidas, na vida dos seus filhos e daqueles que estão ao pé delas, mas sobretudo elas.
Antes de vir para a Guiné – vivia fora, estive muitos anos em Portugal – sempre pensei que um dia deveria voltar e contribuir para o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Sou da opinião que não podemos estar continuamente a culpar os outros por nossas mazelas uma vez que todos nós temos a obrigação de contribuir com alguma coisa, caso contrário o nosso país vai mesmo se afundar.
Voltei com este objetivo de juntar as pessoas e incentivá-las a incentivar outras pessoas, um efeito multiplicador!
Carina Salgado Gomes – Presidente do Movimento Mulheres em Ação