quarta-feira, 6 de maio de 2020

DIÁLOGO(S) COM A SOCIEDADE: A MODA É PREVENIR E SALVAR VIDAS


Desde o início da pandemia estive atento à situação mundo fora e fui me informando sobre as medidas adotadas por outros países. Comecei a fazer máscaras para ajudar a minha gente, pois fiquei a saber que as máscaras cirúrgicas existentes não chegariam para todos. Tenho consciência das limitações que a Guiné-Bissau enfrenta em todas as áreas, principalmente na saúde, e que estamos numa posição de vulnerabilidade perante ao novo coronavírus.

Fui o primeiro no país a confecionar este tipo de máscara. No início houve muita polémica: as pessoas questionavam a eficiência e diziam, por exemplo, que o pano africano não poderia ser usado por causa da tinta. Mas eu estava convicto da minha ação, antes de iniciá-la pesquisei bastante. Minhas buscas levaram-me ao pronunciamento do então Ministro da Saúde do Brasil que orientava a sua população ao uso das máscaras de tecido. Passado algum tempo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também emitiu um parecer neste sentido. Hoje, colegas que me criticaram também estão a produzi-las.

Conto com uma equipa de oito alfaiates. No começo apenas dois ocupavam-se dessa produção. Fazíamos cerca de 200/300 máscaras que acabavam no mesmo dia! Agora que as encomendas de roupas já foram despachadas, todos estão a fazer máscaras; confecionamos mais de 600 unidades por dia. Parte das máscaras são oferecidas e outras vendidas a um preço simbólico para assegurar a compra de material de produção, bem como garantir o funcionamento do atelier e o pagamento dos funcionários.

Já distribui máscaras em hospitais, centros de saúde, para associações de jovens que promovem a limpeza de seus bairros, para as pessoas que encontro na rua... por vezes, como tenho o documento de livre trânsito, pego no carro e vou para bairros distantes, onde a população tem dificuldade para sair de casa devido à interdição dos transportes públicos, e distribuo.

Trouxe a moda para esta situação. Tenho vários estilos de máscaras: com estampa africana, em tecido sem estampas, viseiras, máscaras com uma estrutura de arame na parte superior do nariz para fixar melhor... seguimos as tendências do mundo da moda - nós também evoluímos! É certo que estas máscaras não têm a eficiência de um tecido cirúrgico mas ajudam a proteger e combater a propagação do vírus.



Sou 100% guineense. Nasci em Bula e estudei lá até a altura do liceu, quando vim para Bissau, onde conclui na altura o 11º ano. Em 2004 fui para a Europa. Fiz o curso de designer de moda na Dinamarca. Em 2014 voltei para Guiné-Bissau e abri a minha loja. No ano seguinte realizei o meu sonho: estreei o meu atelier.

Poderia ter ficado na Dinamarca mas voltei com a missão de mostrar para os próprios guineenses e para o mundo que a Guiné-Bissau não é feita só de coisas ruins, como é comumente falado. Quero provar o contrário através do meu trabalho: acredito que o que faço, somado à minha motivação, é uma mais valia dentro do meu país.

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