domingo, 3 de maio de 2020

DIÁLOGO(S) COM A SOCIEDADE: UMA NOVA GUERRA



O meu nome é Dauda Corobo e sou membro da Associação de Jovens de Luanda, a AJOL. Recentemente, fui indigitado para coordenar a comissão que foi criada dentro da organização e que se ocupa de trabalhar com a comunidade do bairro de Luanda, em Bissau, no âmbito do combate ao novo coronavírus. 

A Associação do Bairro de Luanda foi criada depois da Guerra de 7 de Junho, no ano de 1998. Num primeiro momento era um agrupamento de moradores, mas depois passou a ser uma associação de jovens. Atualmente contamos com mais de 100 membros, com idades compreendidas entre os 18 e 30 anos.

Realizamos diferentes ações: limpeza e saneamento básico; sensibilização sobre algumas doenças, sobretudo as que são frequentes em nosso contexto na época chuvosa, nomeadamente, o paludismo. Neste sentido, trabalhamos também com crianças porque dentro da nossa associação há ASC (Agente de Saúde Comunitária). Isto é possível graças a cooperação que temos com o Centro de Saúde de Luanda, mas também com algumas organizações não-governamentais. O que nos possibilita apoiar, por exemplo, a entrega de tendas impregnadas.

Em relação a pandemia do coronavírus, antes de começarmos a trabalhar no terreno com a população, procedemos da seguinte forma: primeiro, como não poderíamos reunir todos os jovens ao mesmo tempo devido às regras de distanciamento, identificamos alguns membros dinâmicos e disponíveis; segundo, solicitamos uma formação ao técnico de saúde, com o objetivo de obter informações suficientes para perceber o que é a Covid-19 e como prevenir a doença.

A formação aconteceu numa escola do bairro e logo após estes jovens passaram a informação para os demais membros, que posteriormente foram divididos em 05 grupos. Uma semana depois da formação, lançamos a campanha de sensibilização e informação sobre medidas de precaução contra a doença do Coronavírus. Os grupos fizeram um trabalho de porta a porta, cobrindo assim todo o bairro.



Além da comissão, foi criada uma subcomissão para dar respostas as questões mais urgentes relacionadas às implicações sociais provocadas pela pandemia do coronavírus, como é o caso da recolha e distribuição de bens alimentares, e mais uma vez evitar a aglomeração dos membros da AJOL.

A distribuição dos bens alimentícios tem sido de momento o nosso maior desafio. Sabemos que a Guiné-Bissau é um país com um dos mais elevados níveis de pobreza. Esta situação, onde a liberdade das pessoas está limitada, veio agravar ainda mais o problema. Infelizmente, as doações feitas não conseguem abarcar todos aqueles que precisam, por isso, fomos obrigados a selecionar as famílias mais carenciadas e até o momento conseguimos ajudar 200 agregados.

Outra ação que colocamos em prática foi a fixação, nas principais vias de acesso do bairro, de baldes com água e lixívia para que os transeuntes possam lavar as mãos.

Pelo que tenho observado, a população está consciente dos riscos e tem acatado as regras de confinamento e medidas impostas pelas autoridades como forma de prevenção ano novo coronavírus, mas o que realmente dificulta é a falta de alimento. Os que saem de casa fazem-no às horas que foram estabelecidas pelo Governo (das 7h às 14h) e para procurar meios de comprar algo para a família comer.

É uma nova guerra. Diferente da que vivemos no 7 de Junho, afinal não é uma luta armada, mas a vida das pessoas também está em causa e isto devido à dois fatores: a doença em si e ao aumento considerável da fome.

Ao sairmos de nossas casas – na contramão daquilo que são as recomendações da OMS – para angariar fundos, alimentos e materiais de higiene, e distribuí-los, bem como para sensibilizar a população sobre os riscos da Covid-19, estamos a colocar as nossas vidas em risco. Fazemos pelo bem da nossa comunidade. O que nos motiva é o espírito de voluntariado.

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