segunda-feira, 18 de maio de 2020

DIÁLOGO(S) COM A SOCIEDADE: É MELHOR PREVENIR


O Fórum existe há um bom tempo... foi criado em meados de 2014, mas esteve inativo porque os membros fundadores acabaram por se desligar da organização. Em 2016, decidimos reativá-lo. A ideia surgiu entre nós, colegas de diferentes meios de comunicação social que difundem programas ligados à saúde nos seus órgãos, após chegarmos à conclusão de que algo deveria ser feito, sob pena da organização ir por água abaixo.

Quando se fala em saúde pública, a comunicação voltada para prevenção é de fundamental importância. Sobretudo no caso de países como o nosso que enfrenta muitas dificuldades no combate às diferentes doenças. Tentamos consciencializar o nosso público de que se gasta mais meios tratando uma enfermidade do que adotando medidas preventivas; não é por acaso que a nossa organização se chama Fórum de Jornalistas Promotores de Saúde (FJPS).

Não queríamos perder mais tempo. Nesta mesma altura realizámos a nossa assembleia e nela uma eleição, onde me foi lançado o desafio de estar à frente da organização, como presidente. No ano seguinte conseguimos tratar dos trâmites legais, o que para mim é uma vitória, pois quando chegar a altura da minha saída, a pessoa que deverá assumir terá em mãos todos os dispositivos legais para dar continuidade ao trabalho.

“Se esta situação está a afetar o sistema de saúde de países que têm melhores recursos materiais e humanos do que nós, ao ponto de não estarem a conseguir fazer face à situação, então, mediante nossas fragilidades, o que poderá acontecer se a covid-19 chegar aqui, na Guiné-Bissau?”, foi o que nos perguntámos quando vimos que a doença já atingia severamente alguns países europeus.

Por isso, a nossa primeira ação foi promover um briefing com os jornalistas de todos os órgãos de comunicação de Bissau, sendo eles membros ou não do Fórum. Era necessário que as pessoas pudessem ter a mínima noção do que é o novo coronavírus, para que se um dia o vírus chegasse a Guiné-Bissau (o que infelizmente acabou por acontecer) estivéssemos preparados. Este trabalho foi realizado em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde Pública.


A segunda ação foi a realização de um atelier. Nesta altura já se começava a falar de casos suspeitos no país. Esta atividade beneficiou os 23 jornalistas das diferentes rádios comunitárias que fazem parte da nossa organização – o Fórum de Jornalistas Promotores de Saúde tem uma abrangência nacional; somos ao todo 45 membros. Nem todos são jornalistas: há médicos, advogados, ativistas... cada um está a dar a sua contribuição para a promoção da saúde.

Não é fácil comunicar. As informações devem ser curtas e claras para que possam ser compreendidas pela nossa população. Os termos que utilizamos para transmitir a informação em Bissau são totalmente diferentes daqueles que são usados no interior do país. Foi sob esta premissa que as ações que mencionei se destinaram a comunicadores distintos. É preciso também ter em conta que os jornalistas comunitários vão passar a informação nas línguas locais.

O Fórum também tem produzido programas radiofónicos diários sobre prevenção contra o coronavírus. Isto é possível graças à resposta positiva à nossa solicitação de apoio feita à ONG AIDA - Ayuda, Intercambio y Desarrollo e ao INASA - Instituto Nacional de Saúde. O programa é emito por dez rádios da capital e em vinte rádios comunitárias.

Ainda no âmbito desta parceria, conseguimos produzir cartazes, posters e lonas que foram disseminados por todo o país. Os posters e as lonas foram fixados em instalações sanitárias e locais estratégicos, onde o fluxo de transeuntes costuma ser significativo.

O feedback dos ouvintes tem sido animador! Recebemos uma chuva de mensagens de citadinos de todo o país que nos parabenizam e encorajam a continuar com o trabalho. Eles relatam que graças à nossa ação, antes mesmo da doença chegar, estavam sensibilizados. E que quando a doença chegou tinham a mínima noção de como deveriam proceder.

O impacto tem sido tão positivo que quando começámos a anunciar o término das emissões (o tempo de antena estabelecido no contrato com as rádios era de seis semanas), os ouvintes começaram a ligar e a enviar mensagens para pedir que o programa continuasse.

O apelo dos ouvintes era: “agora que a situação se tornou mais crítica, que os números de casos têm aumentado consideravelmente, é imperativo que vocês continuem porque ainda há pessoas que pensam que esta doença não é real”. As rádios compreenderam a gravidade da situação e que não temos mais meios financeiros para renovar os contratos. O programa continua a ser emitido, agora em carácter de parceria.

Não me canso de dizer aos meus colegas que o Jornalismo é a profissão que escolhemos e temos de ter amor ao que fazemos. Informar, educar, sensibilizar as pessoas sobre comportamentos de risco ligados a saúde pública é a missão que assumimos ao fazer parte do FJPS, por isso, o fator financeiro não deve limitar as nossas ações. Mesmo que seja num programa de animação, podemos e devemos passar alguma informação útil na área da saúde.

Elida Baldé, Presidente do Fórum de Jornalistas Promotores de Saúde

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